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“O maior aplicativo da internet vai ser salvar o planeta”, afirma escritor

25/08/2011 / Ana Mello

As finanças das grandes potências estão em frangalhos, as grandes metrópoles estão cada vez mais inchadas e inviáveis, o volume de informação que se produz é muito maior que o que se consegue digerir e setores inteiros da economia estão desaparecendo. Essas podem não ser áreas exatamente correlatas da vida humana, mas, juntas, montam o pano de fundo para um, segundo muitos, justificado pessimismo. Não para Don Tapscott.

O empresário canadense, escritor e consultor especializado em estratégias de negócios, é hoje, aos 64 anos, um dos mais respeitados estudiosos do impacto da tecnologia na vida de empresas e governos. “Eu falo muito de problemas, mas nunca fui tão otimista”, afirma. “Estamos no início de mudanças profundas – e positivas”. As mudanças estão centradas na maneira como a internet se entranhou na vida das pessoas, disse ele na noite da última terça-feira em São Paulo, em encontro com jornalistas que antecedeu a palestra que fez na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).

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O otimismo é tal que, para Tapscott, “o maior aplicativo da internet vai ser salvar o planeta”. Autor ou coautor de 14 livros, o escritor lançou neste ano “Macrowikinomics – Reiniciando os negócios e o mundo” (Ed. Campus), obra que resume “o trabalho de toda a minha vida”, afirma ele. Leia a seguir os principais tópicos abordados por Tapscott.

O papel do novo líder

Quando encontro chefes de Estado, percebo que há dois tipos: os que tentam convencer que são inteligentes e os que fazem todo tipo de pergunta. A conversa é bem melhor quando a pessoa se mostra curiosa, que quer aprender. O modelo de liderança está em transformação, e já não cabe mais a figura do líder como um grande visionário, que tem uma ideia e a impõe sobre os outros, como era Winston Churchill (ex-primeiro-ministro britânico). É necessária uma liderança calcada na colaboração. Eu falo muito de problemas, mas nunca fui tão otimista na vida. Estamos no início de mudanças profundas – e positivas. O que precisamos é de uma nova liderança.

As empresas e as redes sociais

É necessário entrar nas redes sociais, mas não pelas razões que se supõe. Você tem que estar lá para interagir com seus clientes, mas as redes sociais se tornaram uma nova forma de produção. Isso está transformando a forma de criar bens e serviços. Hoje em dia temos casos como o da indústria chinesa de motocicletas, muito fragmentada. Várias empresas pequenas se reúnem nas casas de chá e na internet. Não tem Harley Davidson ou Yamaha mandando no mercado. Elas representam 40% da produção mundial de motocicletas. São pares que se unem para criar um bem físico, como uma moto. O mais incrível é que eles podem se unir fora da empresa. A maioria das pessoas pensa em rede social apenas com a ideia de criar uma fan page ou um perfil no Facebook, mas não basta. É preciso mudar a estrutura da corporação. Quem entende há de ter êxito; quem não entende, vai ficar para trás.

A era industrial está acabando, e muitas das instituições que nos serviram por séculos passam por estagnação ou mesmo declínio, sejam governos ou modelos de inovação. A mídia também vive uma grande transformação. Os jornais nos Estados Unidos estão falindo - 70 fecharam nos últimos dez anos. Setores inteiros estão entrando em colapso, como a indústria fonográfica, e a televisão está se tornando um aplicativo para ser usado na internet. É uma época de grandes dificuldades, mas também de grandes oportunidades, porque há iniciativas de compartilhamento, de disseminação da informação. As empresas podem ter sucesso mesmo num mundo em crise.

Novos padrões para a educação

Os modelos científicos e as instituições acadêmicas, que têm o professor como a fonte de todo o saber, estão sendo questionados. Hoje, os jovens com um aparelho celular na mão são fontes melhores que o próprio professor. As universidades estão perdendo o monopólio sobre a educação de nível superior. Nos EUA, os melhores alunos nem vão às aulas. É preciso disseminar o acesso à banda larga para que cresça o acesso a esses novos meios de comunicação. O Brasil poderia imitar o que Portugal está fazendo. Lá, todas as crianças terão neste ano um laptop conectado a uma rede de alta velocidade. E não foi o governo português que pagou: tudo foi feito por meio de parceria com a iniciativa privada. É preciso mudar o modelo de aprendizado, mudar o relacionamento entre aluno e professor. 

Publicado originalmente no  IG Economia

 

Fonte: http://www.livrosepessoas.com/